Virada Gringa! Como Houshmand e Picklum Calaram a Fúria do Maracanã do Surfe!

Publicado em 29 de junho de 2025
Virada Gringa! Como Houshmand e Picklum Calaram a Fúria do Maracanã do Surfe!
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Em um dia de emoções sísmicas em Saquarema, o americano Cole Houshmand conquista um título histórico e quebra a hegemonia brasileira, enquanto Molly Picklum retoma o topo do mundo e a jornada de Luana Silva acende o orgulho nacional.

Saquarema, RJ – A areia da Praia de Itaúna não apenas tremeu, ela pulsou. Neste domingo, 29 de junho de 2025, o "Maracanã do Surfe" foi palco de uma das mais intensas e imprevisíveis finais da história do VIVO Rio Pro. Sob o olhar de uma multidão ensandecida, que formava um caldeirão humano de paixão e barulho, a glória máxima não vestiu verde e amarelo. Foram dois estrangeiros que, com uma mistura de talento, frieza e coragem, silenciaram o coro para escreverem seus nomes na história.

O americano Cole Houshmand e a australiana Molly Picklum são os novos reis de Saquarema. Em um dia que testou os nervos tanto quanto a habilidade nas ondas, eles não apenas venceram suas baterias; eles decifraram o código de um dos palcos mais intimidadores do esporte. A vitória de Houshmand foi um feito sísmico, quebrando um domínio masculino brasileiro que durava desde 2017. A de Picklum foi uma aula de estratégia, que a devolveu ao lugar que ela mais cobiçava: o topo do ranking mundial.

Contudo, a história que ficará gravada na alma da torcida brasileira não é sobre quem subiu no lugar mais alto do pódio. É sobre a jornada de Luana Silva. A jovem surfista carregou as esperanças de uma nação nas costas, surfando com uma garra que parecia extrair força de cada grito vindo da areia. Ela não venceu a final, mas sua campanha heroica foi um triunfo em si, um sinal poderoso do que o futuro reserva.

Este foi o dia em que a força bruta da torcida encontrou a resiliência mental dos campeões. Um dia de lágrimas, êxtase e, acima de tudo, surfe de altíssimo nível, que provou mais uma vez por que Saquarema é, e sempre será, o coração do surfe mundial.

A Fortaleza Mental de Picklum Contra a Maré de Emoção

A final feminina foi um duelo de narrativas. De um lado, Molly Picklum, com a frieza de uma veterana e a fome de quem queria a lycra amarela de volta. Do outro, Luana Silva, a personificação da esperança brasileira, surfando em uma onda de emoção que a levou a derrotar gigantes como a bicampeã mundial Tyler Wright e a campeã de 2023, Caroline Marks.

Desde o primeiro minuto da bateria decisiva, Picklum deixou claro que não se deixaria engolir pela atmosfera. Sua tática foi impecável: começar forte e ditar o ritmo. A australiana aplicou uma pressão constante, conectando manobras poderosas com uma precisão cirúrgica, sem dar espaço para Luana respirar ou encontrar seu ritmo.

Enquanto a brasileira parecia lutar não apenas contra sua adversária, mas contra o peso da expectativa, Picklum surfava com uma clareza impressionante. A vitória foi selada com duas notas sólidas, um 8.17 e um 6.83, que colocaram Luana em uma combinação irrecuperável. Foi uma vitória da estratégia sobre a paixão, da execução clínica sobre o improviso. Ao sair da água, Picklum não era apenas a campeã do Rio Pro; ela era, novamente, a número 1 do mundo.

Apesar do vice-campeonato, a performance de Luana Silva foi a grande vitória do Brasil no evento. Ela chegou agonizantemente perto de quebrar um jejum de 26 anos para o surfe feminino do país em casa. Sua campanha não foi um acaso; foi uma afirmação, mostrando que a nova geração tem não apenas o talento, mas o coração para competir de igual para igual com as melhores do planeta. A torcida entendeu isso, e a aplaudiu na derrota com o mesmo fervor com que celebrou suas vitórias.

Houshmand e a Quebra da Fortaleza Brasileira

Se a final feminina foi sobre estratégia, a masculina foi sobre história. Cole Houshmand, o "underdog" americano, chegou à final contra todas as probabilidades e saiu da água como o rei de Saquarema. Em uma final eletrizante contra o compatriota Griffin Colapinto, Houshmand mostrou um surfe de poder impressionante, cravando um total de 16.90 pontos e deixando claro que um novo gigante havia chegado ao tour.

A jornada de Houshmand foi a de um matador de gigantes silencioso. Enquanto os holofotes estavam em nomes como Colapinto, Ferreira e Toledo, ele avançava com um surfe sólido e taticamente inteligente. Na semifinal, ele foi o responsável por acabar com o sonho do último brasileiro na disputa, Miguel Pupo, garantindo a primeira final 100% americana em Saquarema.

Na bateria decisiva, contra um Colapinto que vinha de performances dominantes, Houshmand não se intimidou. Ele respondeu onda a onda, usando a força de seu backside para atacar as esquerdas de Itaúna com uma violência controlada. Sua vitória, superando os 14.40 de Colapinto, não foi apenas uma surpresa, foi a quebra de uma hegemonia. Pela primeira vez desde 2016, um estrangeiro vencia no Brasil, e era justamente o surfista que poucos apontavam como favorito.

A vitória de Houshmand foi o resultado de anos de trabalho duro, dedicação e, acima de tudo, a coragem de não se encolher perante a maior e mais barulhenta torcida do mundo. Ele não apenas venceu a etapa; ele conquistou Saquarema.

Os Dramas e a Magia por Trás do Pódio

Além dos campeões, o VIVO Rio Pro 2025 foi um mosaico de momentos inesquecíveis. Impossível não mencionar o voo de Italo Ferreira nas oitavas de final. Precisando de uma nota alta, o campeão olímpico decolou em um aéreo rodando absurdo, cravando um 9.33 e correndo para os braços do povo, em uma cena que resume a simbiose entre os surfistas brasileiros e sua torcida.

Igualmente dramática foi a classificação de Miguel Pupo sobre o tricampeão mundial Filipe Toledo. Nos segundos finais, Pupo encontrou uma onda salvadora e, com uma calma impressionante, conseguiu a virada no apagar das luzes, em uma demonstração de resiliência que levou a praia ao delírio.

O evento também expôs a profundidade do talento no circuito feminino. As eliminações precoces de favoritas como a líder Gabriela Bryan e a defensora do título, Caity Simmers, mostraram que, em um mar desafiador como o de Itaúna, o conhecimento das ondas e a capacidade de adaptação valem mais do que o nome na lycra.

Ao final, o legado do VIVO Rio Pro 2025 é duplo. Ele marca o fim de uma era de domínio absoluto, provando que a fortaleza brasileira pode ser conquistada, e o início de outra, com a ascensão de uma nova geração de surfistas brasileiras prontas para brigar pelo topo. A poeira baixa em Saquarema, mas a temporada do surfe mundial está mais quente do que nunca. A batalha agora segue para as direitas perfeitas de Jeffreys Bay, na África do Sul, com o ranking totalmente reconfigurado e a corrida pelo título mundial completamente em aberto.

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